quarta-feira, dezembro 23, 2015

Profundo é a Bossa


Em minha varanda suspiro, bafejando meu cigarro enquanto deixo o café esfriar, tantas lembranças nestas tardes chuvosas de inverno, lembro da minha primavera, em 19... Novo e confiante caminhava, saindo da Boa Vista em direção a Guarapes, andava pela ponte, distraído, fumando meu Lucky Strike, meu panamá fiel pendendo ao lado da cabeça, descrevendo um certo desleixo  Hollywoodiano. No meio da ponte foi fatal, era sua lavanda envolvendo minhas narinas, seus olhos invadindo meu ser.

Morena era jambo, canela teu gosto, bons dias eram aqueles, nas tardes de passeio, tua boca a murmurar, Sylvia Telles ao fundo virando tema de um romance épico, acompanhado do teu sorriso perolado. É na chuva que mais lembro, a lavanda, canela, jambo, flor em lapela, romantismo e a musica ao fundo.

" Sim, promessas fiz.
Fiz projetos sonhei tanta coisa.
E agora o coração me diz.
Que só em teus braços, amor, eu posso ser feliz."

A noite roubava teus beijos gelados, recheados ao sorvete, era a promessa da vida, amor verdadeiro, embora poucos dias ficava sem a ver. Era na música que sua presença era sentida, era na música que eu te via.

" Eu tenho este amor para dar ,
O que é que eu vou fazer."

Foi na segunda, dia 7, um dia anormal, chuvoso, primavera em prantos, teu sorriso desapareceu, juntamente com a sua presença. Agora velho lembro, tanto tempo distante, correndo triste neste inverno sem fim, em prantos e lutos superados e escondidos, tomo meu café gelado, acendo meu cigarro, mais uma lágrima ao lembrar da canela que um dia esteve nos meus lábios.

"Eu tentei esquecer,
E prometi,
Apagar da minha vida este sonho .
E vem o coração e diz ,
Que só em teus braços amor eu posso ser feliz.
Que só em teus braços amor eu posso ser feliz."


Cadê o cigarro? Meu chapéu e a minha bossa? Cadê as rosas que perfumavam? A minha, a nossa bossa nova.

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